Vozes da Agricultura Ecológica
Aqui seguem os capítulos que disponibilizei gratuitamente
Impressiono-me com a sanidade da lavoura
de tomates dentro da estufa. Pergunto ao
Natan o que ele tem pulverizado. De maneira
displicente, diz que apenas duas pulverizações
com um preparado de nutrientes.
— Sou meio preguiçoso para pulverizar
– diz ele.
— Sementes, Natan, você comprou?
Linha Pereira Lima é uma bonita comunidade rural no interior do município de Ipê, localizada entre Caxias do Sul e Vacaria, no Nordeste Gaúcho. O verde predomina nesta comunidade: parreiras, macieiras, pêssegos, milho, hortaliças, pastagens. Mas o que mais se destaca é a vegetação nativa que vem se recuperando ao longo das últimas décadas, fruto do êxodo e da mudança do perfil produtivo das propriedades rurais, que hoje dedicam-se menos a culturas anuais e mais à fruticultura.
- Quantas horas você trabalha por dia?
- Oito, nove horas, não acho que trabalho muito.
Ciente de que na Serra Gaúcha o trabalho nunca é um excesso, e que quanto mais se faz, maior é a valorização social, Hélio Quilante, 48 anos complementa...
Entro na estufa de morangos. Lindos, vermelhos,
adocicados. As caixas de som pregadas no alto dos
palanques da estufa espalham música no ar.
— Os morangos gostam de música clássica,
Volmir?
— Não sei, devem gostar, quem não gosta? Mas
se não gostarem não conseguem escapar...
Estou na comunidade Linha 30, interior de Antônio Prado, linda cidade de colonização italiana da Serra Gaúcha. A 50 quilômetros da famosa Caxias do Sul, a maior força econômica da principal região vitivinícola do país.
Comecei as entrevistas que deram origem aos relatos deste livro por puro gosto. Gosto de ouvir, ver, contar histórias. Sempre ouço sobre as vidas dos membros das famílias de agricultores ecologistas, com as quais convivo, narrativas muito interessantes. Na verdade, sempre vejo na vida das pessoas, em geral, excelentes histórias. A partir deste gosto, comecei as conversas que deram origem aos escritos que correspondem aos próximos 19 capítulos deste livro. Escritos breves, muito aquém do que ouvi e mais aquém ainda do vivido por meus interlocutores. O limite foi a capacidade do autor de recontar o que ouviu, com verdade e alguma poesia, aliada ao desejo de que fosse de fácil leitura.