Vozes da Agricultura Ecológica
Aqui seguem os capítulos que disponibilizei gratuitamente
Para contar a trajetória da família Justin vamos começar pelo Norte do país, mais exatamente ao redor da Transamazônica. Sim, esse povo tem estrada, são muitos quilômetros de história.
Contar a história do casal Itamar e Silvana Ferrigo não é descrever agricultores familiares que produziam de forma tradicional, entraram pelo mundo dos agrotóxicos e, depois, optaram por fazer uma transição rumo à Agricultura Ecológica. Sendo naturais de Caxias do Sul e tendo nascido no início dos anos 60, poderia até ser. Mas não é. A história do Itamar é a de alguém que, desde a adolescência, sentiu-se deslocado no espaço, mas não fez disso motivo de reclamação por toda a vida. Não passou suas décadas trabalhando no que não gostava, para poder angariar as condições materiais para ir ao imaginado paraíso.
Dirceu e Lúcia moram na Chapada do Mono Bicudo, comunidade do interior de Mampituba, município limítrofe com o Estado de Santa Catarina, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul. Em que pese estar na região do litoral, não são do mar as águas que embelezam o município, mas do Rio Mampituba e dos arroios que nele deságuam, descendo da Serra Geral e entrecortando a paisagem com águas frias e transparentes.
"Pêssegos eu posso comprar, mas onde comprarei pessegueiros em flor?" A pergunta é feita por um menino, chorando, aos espíritos dos pessegueiros, arrancados recentemente por sua família. Após ouvir a pergunta, feita de forma sincera e comovente, esses espíritos dançam lindamente para o rapazinho, dança que interpreto de reverência pelo amor que ele demonstrou aos pessegueiros, os quais cuidava com carinho.
"Pêssegos eu posso comprar, mas onde comprarei pessegueiros em flor?" A pergunta é feita por um menino, chorando, aos espíritos dos pessegueiros, arrancados recentemente por sua família. Após ouvir a pergunta, feita de forma sincera e comovente, esses espíritos dançam lindamente para o rapazinho, dança que interpreto de reverência pelo amor que ele demonstrou aos pessegueiros, os quais cuidava com carinho.
Estou em Farroupilha, cidade que fica a 100 quilômetros de Porto Alegre. O município é conhecido como berço da imigração italiana no Rio Grande do Sul. Encontro-me, mais precisamente, no seu 3⁰ distrito, na comunidade conhecida como Capela São Luiz. Vim aqui para visitar o Sitio Agroecológico Espaço do Sossego, da família Lovatto - meu amigo Pedro, sua esposa Margarida e as filhas Amanda e Amélia.
Entro na Fruteira Ecológica e sinto-me invadido pelo doce sabor de uva madura espalhado pelo ar. Claro, estou em Caxias do Sul, Serra Gaúcha, em plena safra da uva. Berço da imigração italiana da segunda metade do século 19, a tradição da vitivinicultura veio junto com as famílias que atravessaram o oceano em busca de terra, trabalho e dignidade.
O grupo Cultivando Vida com Deus surgiu em 2015, portanto, há menos de três anos, na comunidade de Alto Chapecozinho, município de Morrinhos do Sul, na região do Litoral Norte gaúcho. Chego e impressiono-me com a estrutura. Galpão grande, câmara de climatização de banana, um pequeno escritório, dois caminhões. Esse grupo tem foco absoluto na produção e comercialização de bananas ecológicas para supermercados.
Começo a conversar com Gabriel Sherner Zanotto, 21 anos, e não posso deixar de pensar que seu visual está mais para um vocalista de banda de rock que para um agricultor familiar. Jovem, alto, cabelos fartos e cacheados. Bobagem minha, mas trazemos algumas associações de imagens e elas surgem mesmo sem serem convidadas.
Enquanto vejo o Seu Jorge limpar a araruta, triturá-la, mergulhá-la na água e coar o resultado da mistura, passo inicial na elaboração do polvilho desta raiz, que já foi mais comum em nossas mesas, minha memória viaja. Lembro-me bem dos biscoitos de araruta nos tempos da minha infância. Eram vendidos nas padarias na minha cidade natal, Niterói, no Estado do Rio de Janeiro. Por isso, mas não apenas por isso, ver o Seu Jorge fazendo polvilho de araruta quase me emociona.