São Tomé, São Tomé e Príncipe, 26 e 27 de julho de 2021.

 

No campo, durante o curso.

Dando prosseguimento à minha semana aqui em São Tomé, ontem e hoje foi dia de curso. Estou aqui na qualidade de formador, junto com duas amigas que trabalham em Ifoam, a Flávia e a Bárbara. São 12 formandos/as, em um curso de Formação de Lideranças em Agroecologia e Agricultura Biológica. Mas… nessa vida, “formar” e “ser formado” é uma dança cotidiana, estamos nela, levando e sendo levados. Assim temos trabalhado, da forma mais horizontal possível! São Tomé e Príncipe está em um processo interessante de buscar ser o país com a maior área, em termos percentuais, com produção orgânica no mundo.

Roça Monte Café, onde fica a Cecafab    Em 2018, quando estive aqui pela primeira vez, lancei essa ideia/desafio. Em 2019, na minha segunda vinda, retornamos o assunto inclusive em uma reunião com o Ministro. Pegou, estou surpreso como estão a falar nisso… ideia já comprada, inclusive, por algumas lideranças políticas. Com receio das falhas e armadilhas da memória, fui obrigado ontem a perguntar para Flávia quem foi que começou a falar nessa ideia da agricultura de São Tomé e Príncipe ser 100% orgânica e ela me respondeu: “você!”. Sim, acho mesmo que foi e não me surpreende, nas minhas estratégias de trabalho sempre lancei mão desse método de estimular o caminhar a partir dessas metas ousadas, às vezes até estimulando o que considero uma saudável competição. Deixa eu ressaltar que, em determinado feito social, em uma conquista coletiva, importa pouco quem teve a ideia. O alcance do objetivo só se fez possível pela dedicação de tantas e tantos, que se envolvem nos inúmeros momentos necessários para isso.

Enfim, veremos até onde a ideia se materializa.

No curso, ontem, falei o que considero ser o eixo fundamental para o desenvolvimento da agricultura orgânica aqui, nessa ilha, onde o ecossistema que predomina é o trópico úmido com solos vulcânicos: a agricultura de biomassa. E que o insumo com o qual mais eles devem se preocupar para viabilizar esse desiderato é a informação de qualidade. 

Pimenta. Banana e mamão, além
outras companhias

Hoje, pela tarde, fomos visitar duas Cooperativas muito interessantes. Uma que trabalha com Pimenta do Reino e outra com café. A Coopiba e a Cecafeb. Junto com o Cacau e, mais recentemente, a baunilha, os quatro cultivos mais importantes do país.

Chamou mais minha atenção conhecer a cooperativa que trabalha com pimenta. É uma planta trepadeira, de nome científico Piper nigrum. Vimos o processamento dos seus frutos que, junto com o ponto de colheita, irá determinar a cor do produto final: verde, preta, branca ou vermelha, cada uma delas com suas particularidades, apesar de serem provenientes da mesma planta. Uma das diferenças, além da cor, é o teor de piperina, ou seja, quão forte ela ficará. Fiquei pensando como essa espécie provocou intensos movimentos no mundo, obrigando homens a transladarem-se a mares desconhecidos e pouco amigáveis, buscando satisfazerem suas necessidades de lucro ou sobrevivência, atendendo a paladares exigentes ou curiosos. Já foi moeda e é um tipo de commodities do mundo antigo. O maior produtor mundial é a Índia, mas o Brasil, principalmente na região norte, produz também grandes quantidades.

Pimentas, secando, com suas diferentes cores!

Falando em paladar exigente, no almoço de hoje uma particularidade da culinária local: feijoada de peixe. Feijão mulato, peixe e especificarias. Delicioso… E eu sempre aprendi que peixe e feijão não combinam… mentira pura… não é incomum que nossa cultura alimentar nos engane, impedindo-nos de aventuras por determinados gostos ou combinações, dizendo, por exemplo que abacate só com leite, manga nunca com leite, fazendo-nos escolher entre coentro ou salsinha e coisas dessa natureza.

Bem, o dia foi cheio, teria mais para contar, mas nunca dou conta de contar tudo… fico por aqui, hora de preparar o trabalho de amanhã!

 

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